quarta-feira, março 15, 2006

:::LIVRO:::LIVRO:::LIVRO:::LIVRO:::

Despojos de Berlim é um livro fenomenal sobre a II Guerra Mundial, da autoria de Michael Pye.
A história desenrola-se no tempo corrente, com flashbacks detalhados aos episódios das vivências das personagens.
Lucia Muller-Rossi é a personagem principal de uma trama que se desenvolve na ténue linha de moralidade entre o que é sobrevivência em tempos de guerra e a ética das relações profissionais, de amizade e da família.
O seu filho, Nicholas é um professor suiço, personagem na qual se inícia a história, quando já idoso perde o seu pai, figura quase inexistente na sua vida (por culpa da mãe).
A sua filha, Helen trava conhecimento com uma das vítimas da avó e passa a ser o catalizador dos pecados da família, querendo ser a redentora das acções da Lucia e do silêncio do pai. A partir desse momento trava uma batalha pela reposição da verdade dos factos, sempre com o objectivo final de permitir a justiça intemporal, ainda que com isso vá conduzir ao desenterrar das memórias bem escondidas dos seus familiares e ao desfecho da história.
Escrito de uma maneira inteligente, com passagens literalmente viciantes, "Despojos de Berlim" é um candidato a virar filme, esperando que com isso não seja sacrificada a narrativa em nome do sucesso de bilheteira.
Um história comovente de um outro lado da 2ª Guerra.

terça-feira, março 07, 2006

:::CINEMA:::CINEMA:::CINEMA:::

Capote é um filme sobre o egoísta processo criativo de Truman, no qual o autor tem poder máximo de ingerência na vida e na obra.
É um filme que nos agarra, pela inteligente desenvoltura que a trama tem, ganhando obviamente com o desempenho fortíssimo de Philip Seymour Hoffman.
E como cereja em cima do bolo, o filme reproduz a essência da criação do livro e do estilo literário (a novela não ficcional), fazendo com que seja em si um processo de acompanhamento e desenvolvimento da história.
Quando a criatividade e a literatura são moralmente mais fortes do que os crimes relatados na história, o escritor assume-se como um cínico semi-deus, fechado na sua obsessão de criador.
Um bom filme.





Capote
Título original: Capote
De: Bennett Miller
Com: Philip Seymour Hoffman, Catherine Keener, Chris Cooper
Género: Dra
Classificacao: M/12
CAN/EUA, 2005, Cores, 98 min.

quarta-feira, março 01, 2006

:::CINEMA:::CINEMA:::CINEMA:::

Transamerica é um filme decente sobre um dos grandes tabus da América profunda do talvez séc. XXI.
A sexualidade.
É uma visão sobre como não se aceita a diferença do outro que nos é próximo mas se permite a perfidia e se cultivam as submissões das taras forçadas de cada um.
Transamerica é em grande parte o desempenho de Felicity Huffman transformada em Bree (que ainda começa Stanley) e termina numa verdadeira mulher, incluindo o instinto maternal, depois de uma tripla viagem (a da estrada, a da vida de Bree e a da descoberta da vida de Toby) cheia de pormenores e detalhes psico-trágicos que fazem rir a audiência.
Retratando com primor os clichés das famílias matriarcais desajustadas e conservadoras (a mãe ditadora estilo Dolly Parton sulista, o pai fraco preocupado com a sua ida performance sexual e a irmã rebelde num pós-estádio alcoólatra), ou os esquemas de sobrevivência dos miúdos espertos e despachados, há sem dúvida uma crítica implícita ao cinismo púdico americano, que para si clama o epíteto de "Land of Freedom. Home of the Brave".

É um filme que, tal como o nome indica, transveste a América e mostra que a liberdade é subjectiva e que o sonho não é propriedade americana como nos quiseram fazer acreditar, mas que no fundo, no fundo, a sorte protege os audazes.


Transamerica
Título original: Transamerica
De: Duncan Tucker
Com: Felicity Huffman, Kevin Zegers, Fionnula Flanagan
Género: ComDra
Classificacao: M/16
EUA, 2005, Cores, 103 min.
http://www.transamerica-movie.com/